La Loba: Um conto de mistério.


La Loba

Existe uma velha que mora num lugar oculto, de que todos sabem, mas poucos viram.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda, e invariavelmente gorda e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. 
Ela sabe crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais que humanos.

Ela é conhecida por muitos nomes: La Huestra - A mulher dos Ossos - ; La Loba - Mulher Lobo - ; La Que Sabe - Aquela que sabe - ; La Trapera - A Trapeira-. 
 
O único trabalho de La Loba é recolher ossos. Sua caverna é cheia dos ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: veado, cascavel, corvo... Dizem, que sua especialidade reside nos lobos.

Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montañas e os arroyos, leitos secos dos rios, á procura de ossos de lobos e quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o ultimo osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta a sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar, 

Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos da costela e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e a criatura se reveste de pelos. La Loba canta um pouco mais e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima forte e desgrenhado.

La Loba canta mais e a criatura começa a respirar,
Ela canta com tanta intensidade que o chão do deserto estremece.
E enquanto canta o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro. 

Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol, ou de luar sobre seu flanco, o lobo se transforma numa mulher que ri e corre livremente na direção do horizonte.

Por isso, diz que se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, você tem sorte porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo - algo da alma.


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Este cuento de milagre -conto de mistério- é uma historia sobre ressureição do o vínculo entre mundo subterrâneo - profundezas da alma-  e o lado selvagem do ser.
Ele promete que se cantarmos a canção, poderemos conclamar os restos psíquicos do espírito da mulher selvagem e traze-la de volta como um suspiro de vida através do canto.

~ Cantar significa usar a voz da alma, expressar a verdade e a necessidade de cada um. ~

Isso se realiza por meio de um mergulho no ponto mais profundo do amor e do sentimento , até que nosso desejo do vínculo com o Self Selvagem transborde, e possamos correr livremente e uivar seu canto mais poderoso. 

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No mito, La Loba conhece o passado pessoal e o passado remoto pois ela vem sobrevivendo pelas gerações a fora e é mais velha que o tempo. 
Ela é a memória arquivada, preserva as tradições.
A velha,  Aquela que sabe está dentro de nós, ela viceja na alma-pisique das mulheres, lugar onde a mente e os instintos se misturam , onde a vida profunda embasa sua vida rotineira.
Ela está entre os universos da racionalidade e do mito, ela é a articulação a qual estes mundos giram, um lugar entre o tempo e o espaço, lugar em que conseguimos perceber quando recorremos á poesia, a música, a dança e as histórias. 




***Texto adaptado do livro "Mulheres que correm com lobos" de Clarissa Pinkola Estés***



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